Em memória das nossas mães
Hoje
eu e os orfãos do mundo
somos
a Caveira de Cruz e Souza
Somos
lembranças machadianas
em Memórias de Braz Cubas
Somos
Lima Barreto
em samba, tema, enredo
das Recordações de Izaias Caminha
Somos
o escuro ao encontro da luz
caminhos forjados em Ray
Somos
a espada guerreira de Aquiles
uma perenidade conquistada nas telas de Troia
Somos
Ogum e Oxossi
digladiados por Ossain
nas lagrimas de Iemanjá
somos
Obaluaiê descoberto pelas saias de Oyá
Somos
brados maternos
de Zumbi, Malcon X, Luther King, Mandela;
de Agostinho, Amilcar, Angela Davis;
de Marley, Tosh, Elizeth, Brown, Clementina;
de Sembene, Joelzito, Zozimo, Spike, Jefferson;
de Carolina, Iracema, Menininha, Penha
e tantas outras sinonimas e anonimas
Somos
os jogados ao lixo
os abortados pelo desprezo
os abandonados pelas ruas
os viciados pelo crack
as fraturas expostas na basílica da padroeira
a jóia violentada em Preciosa
Somos
no mercado de presentes
na constelação das mestres
nas penitenciárias de algozes
nas igrejas, terreiros, missas
um epitáfio em comum
nossas mães
faleceram
falecem
falecerão
que verbos imprimiremos?