O céu pode ser tão azul... não pode?
A tarde indecisa me fez ficar caído
Febril num mundo escondido, sofrido...
Não havia nenhuma poesia...
Os monstros se libertaram
E me aprisionaram
Dentro do mundo dos medos...
E Isso não passa
Se passa aqui
Dentro de mim.
Quer alguém preso se libertar
E caminhar
Caminhar rumo aos longes
Construir novas paisagens
Derreter-se junto aos relógios de Dalí,
Decifrar-se...
Se é um anjo eu não sei,
Mas deve está triste,
Pois está aqui perto de mim...
Não carece dizer nada
Deixa-me apenas discorrer
Porque agora, exatamente agora
Por favor, não diga nada
Agora eu sinto que a tristeza veio diferente,
Não tem ela razão de ser,
O céu pode ser tão azul... não pode?
Mas isso não a impede aquilo
De que por si exista...
Está me observando da janela
Um ser insonoro, indecifrável,
Passa a mão aos meus sorrisos
Os que achava que podia ter,
Que os guardava...
Os que eu imaginei que podia dar,
Um sorriso...
Minhas faces estão tão retesas,
O esquecimento me maquiou o rosto,
E destruiu as vontades de sorrir,
Ou chorar...
A tarde toda a febre me cobriu
E eu não sei dizer por que quis ficar tão só
Alguém triste colou em mim
E nós dois choramos segredos agudos
Não sabemos o porquê,
Também isso não impede esse ato.
Li um poema de Fernando Pessoa que me veio à mente
Depois outro do Drummond
Um soneto de Camões
E uma elegia de Riner Maria Rike
Não fiquei melhor por isso,
Apenas esses meus amigos
Visitaram-me durante o cozimento
Da carne e a destruição dos ossos,
Do corpo, essa velha casaca, casa...
Por que para você?
Não precisa se preocupar
Mas obrigado por não ficar desligada,
Não diga a ninguém
Mas as pedras tem raízes também,
Estão vivas também,
E guardam Segredos inconfessáveis
Obrigado por fingi que não existo
De fato esse é meu pensamento
Não há um eu...
Mas tudo, tudo está sangrando agora,
E essa hemorragia é de muito tempo,
Cai não cai, a alma não vacila,
Decidida carrega essa massa...
E não sei até quando vou poder suportar
Qualquer dia te envio uma carta
Contando as coisas impossíveis
Uma configuração da vida
Um painel no qual quis está
Um projeto de mim que quis realizar
Tem tanta coisa aqui,
Caríssima desconhecida...
E eu te imagino tanto
Assim conversando uma conversa que nunca, nunca vai poder haver
Nunca vai existir
E essas são as teias em que estou preso
Nessas coisas impossíveis
As mais lindas
Com quem não acho ninguém para partilhar e mostrar
Que a beleza também existe na escuridão da noite
E na solidão de qualquer coração...
Obrigado por não ligar para mim
Estragaria tudo qualquer contato
Assim pensando que a inexistência dos afetos é o sinal de nossa época
Eu te agradeço ser virtual
Em você sinto a amizade que busco
Uma amizade distante
Tal qual se distancia meu pensamento em horas transatas,
É bom... Talvez não.
Não sei se amanhã vou querer te encontrar neste mundo imaterial
Nesse mundo em que as essências são tão capitais
Eu sinto que você mesmo calada
Mesmo imóvel e longínqua
Emite algum pensamento
E eu o recebo aqui
O percebo aqui invadindo meu coração
Rearranjar as configurações destas ondas cerebrais
Por favor, não estranhe...
Não estranhe a estranheza das coisas mais simples
E complexidade fácil e pueril do mundo
Mas eu apenas desejei discorrer com alguém
E as pedras que conheço estão todas fechadas,
Dormindo ou de costas para mim...
Hoje o dia não desabrochou
E eu já pressenti nas brechas do sono
Que hoje tudo ia está mais enfadonho
E eu andei por aí,
Tantos caminhos
Porém meu corpo deve estar em determinados lugares
Mas meu espírito se dissipa
E vai para onde quer
Eu não posso, nem quero impedi,
E até ensejo...
Eu apenas desejei conviver com alguém
Então quem seria?
Apenas você
Você que não me lembro de ter visto
Você de quem não recordo da voz
É que está dando um sentido
Para esse meu dia noturno
Dizem que sempre existe um caminho
Mas ninguém pode ver por onde ando
Obrigado por não pensar em mim
E me ensinar mostrando-me
Ao bailar que existem liberdades de fato,
Que algumas pessoas,
E coisas estão prenhes delas
Obrigado por não querer saber nem pensar nesta existência que vive em mim
No quem sou no que sou...
Tenho que ir,
Meu ser é partida,
São acenos e rictos...
Pela janela me vem o som das folhas caindo...
Há um vento que as leva
Parece me chamar
E a leveza que há em mim quer flutuar e conhecer novas nuvens
Negras ou não,
Densas ou não,
Que importa é viver alto...
Alcançar as estrelas mais distantes
Desculpe-me a incoerência
O húmus da terra está já me compondo
Eis que me casulo
Quando despertar
Quem sabe no amanhecer da tua noite
Veja uma, ou milhares borboletas coloridas
Brilhantes e vaporosas
Dançando na espiral do movimento quando você acordar, se espreguiçar e sorrir...
Sorria
Sempre
É próximo das flores que as borboletas gostam de ficar...
Agora silencio...
E pode durar muito essa cegueira...
Viver é fechar os olhos.