PROSA DE UM ANJO NA FUMAÇA DO CACHIMBO

LÁ, NO BARRANCO DO RIO ONDE EU MORAVA, AS ÚNICAS COISAS TRISTES ERAM AS LEMBRANÇAS DE ALGUMAS PASSAGENS NA CIDADE GRANDE, ONDE AS FLORES PERDEM AS PÉTALAS E AS BORBOLETAS PERDEM AS CORES.

LÁ, AS FLORES NÃO MURCHAM. BORBOELETAS, FALENAS, LIBELULAS E MARIPOSAS, ATÉ AS EFEMERAS, BAILAM SEMPRE EM POR SOBRE O ESPELHO DAS ÁGUAS. SÓ AS EFEMERAS CUMPREM O SEU CICLO DE POUCAS HORAS E, NEM POR ISSO, O GRANDE BERÔ-ROCAM DEIXA DE ROLAR COM AS SUAS ÁGUAS SERTÃO A DENTRO.

NA FUMAÇA DO CACHIMBO EVOLAVAM CANTIGAS DE RODA

“ EU VI O SOL, LA NO ALTO CLAREAR,

EU VI MEU BEM DENTRO DO CANAVIAL

TRISTEZA QUE VAI E VEM,

NÃO TRAZ NOVAS DO MEU BEM

SE ELE É VIVO, SE ELE É MORTO

OU NOS BRAÇOS DE ALGUÉM...”

E LA IA A CANTILENA DOS CURUMINS DA ESCOLA , ENQUANTO O VELHO ARATUNA FALAVA DO POVO DO ARUANÃ. EU PITAVA SEM NINGUÉM PARA FALAR QUE AQUILO FAZIA MAL.

FAZIA NADA!

DIA DESSES TIRARAM EU DE LÁ.

SEM CACHIMBO,

SEM BORBOLETAS

FALENAS E LIBELULAS E, MUITO MENOS,

AS EFEMERAS QUE SO VIVEM NA BEIRA D’ÁGUA.

AÍ PERDI O CONTATO COM OS ANJOS

E NEM VI MAIS OS BOTOS BRINCANDO

DE VADIAGEM NAS TARDES QUENTES

DA BEIRADA DO MEU RIO, MORADA DO CAIPORA

DO NEGRO D’ÁGUA E DO SACI PERERE.

EITA LEMBRANÇA DANADA!

SSPóvoa
Enviado por SSPóvoa em 21/03/2010
Reeditado em 01/12/2012
Código do texto: T2151155
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