após o verbo era escuridão
fez-se a luz ao primeiro comando
(deus tinha medo do escuro?)
fez-se a primeira dualidade
branco e negro
fez-se o primeiro preconceito
a situação ficou preta
depois se provou que a cousa não foi bem assim
houve a grande explosão cósmica e a evolução vital
mas já estava feito, ficou uma ponta negra
num canto coberto de verde
num mundo coberto de desdém
o leito se encheu e vazou
tornou a encher e a vazar
e assim repetindo-se o mar ficou negro
estava feito, sobrou a ponta negra
colorindo o rio, a selva e a cidade
impondo-se sobre a saudade
sobre a esperança, a expectativa
símbolo do tempo, marca da vida
a ponta negra é azul
meu olhar é verde
sobre o boto vermelho
sob o dourado do céu
dentro da vontade de tom pastel,
a ponta negra é negra
é linda
como a mulher que inventa a minha solidão,
a ponta negra também me espera
todas esperam
e agora estou aqui...


Manaus 08-03-2010