O poema que faltava para que eu pudesse ir...
O poema que faltava
para que eu pudesse ir...
Só poderia ser para ti, meu amor,
A derradeira mensagem
Em que se encerra o poeta.
Não a poesia
A poesia é eterna
Mas é preciso encerrar o poeta
Porém dentro de si somente.
E há de encerrar-se a cantar teu nome
Porque todas as flores, aqui
Deixaram seu perfume,
E hão de deixar também suas sementes...
Não que se faça póstumo ainda o poeta,
Mas, que morre dentro dele
A poesia.
Pois, se finda a beleza, (toda ela)
Mesmo a ausência, essa beleza triste
Ou outro sonho, que ainda existe
É preciso encerrar o poeta.
Hosana ao Senhor, o meu mestre
Que inda vive o homem, mas o poema padece.
E a ti, minha amada, esses últimos versos,
que seguem a me dizer:
É preciso encerrar o poeta.
E aqui ele se encerra, nessa letra diminuta,
Que quase não se pode ler.
E é assim, como o ciclo da vida,
É o fim.
E para ti, este último poema,
(Que às vezes não é).
Às vezes para mim,
E me encerro aqui.
Como a chuva que se vai, trazendo o arco-íris,
Como o sol que se vai, trazendo a tempestade.
Que Deus vos abençoe
Amada minha.
Aqui se vai o poeta que foi teu
E de tudo que restou, que inda era meu,
O último poema,
Para que eu pudesse ir...