Atrás da janela uns olhos claros
e sem clareza fitam a noite, que está
iludida pelo esplendor do luar.

Imaginam-se estes olhos possuidores de
um dom escasso: o de ver beleza por todo
espaço, mas enquanto imaginam, não vêem.

Olhos castos postos no horizonte por
onde some a horda de retirantes, sem
deixar rastros, sem levar lastros,
caminham por caminhos inócuos, onde nenhuma
esperança os assiste, não têm rostos nem sina,
senão a eterna morte severina.

Cegos de impotência, voltam-se os olhos
às bruxas, a luz mortiça atiça a dúvida,
o horror, o feitiço contra o encantador.

De repente tudo é água, de chuva e não
de lágrimas, rompido o casulo a crisálida
põe-se a valsar, ela e o cão
presas do mesmo olhar,
de olhos que agora sorriem,
porque a lua está nua e só sobre a rua de pó,
e entre a lua e o pó
estão teus braços,
teu corpo,
teu calor,

No canto telúrico do teu regaço
liberto pela ânsia do teu abraço,
homem me basto, poeta me faço
no carnaval sem fantasia,
mas que a gente ria, ah amor,
ria...