Adormeço no estrado do tempo,
na noite negra que espanta a compreensão;
persigo o passado, incalculável espaço que arrasto,
como grilhões inquebrantáveis, por todos os atos,
antes mesmo de formular um pensamento.

Adormeço no estrado do tempo,
guerreiro cibernético em armadura medieval,
combato a dor, porque muita dor possuo,
combato o medo, porque muito medo possuo,
mato o amor, porque o amor possui muita dor e medo,
mas, fundamentalmente, o amor possui muita alegria e
esperança, sendo assim, também me possui, me violenta,
impulsiona-me.

Adormeço no estrado do tempo,
quem sobreviverá, aquele que fui ou quem almejo ser?
existe de fato escolha, se meus passos são guiados pelo
desespero do momento?

Acordo na alcova do tempo,
faquir moribundo que de tanto beijar na boca fétida da
morte, de tanto gozar na vulva gélida da morte,
enjoou até de morrer.

Acordo na alcova do tempo,
cansado de sonhar sonhos azuis, quando a realidade
é um golpe abaixo das costelas que me atira janela afora,
muito longe de mim.