TODOS OS SENTIDOS

TODOS SENTIDOS

I

ouço a flor se polinizar,

a brisa de Porto Príncipe,

o rócio da madrugada,

as nuvens navegarem

um diálogo em braile.

II

sinto o aroma das tulipas holandesas,

do vinho consagrado,

do acordar do meu amor,

dos sonhos suaves,

dos ipês floridos.

III

sei o gosto

do que gosto não tem.

o sabor do Bolero de Ravel,

das horas tardias,

da água em que se banhou a amada.

IV

mãos sem controle remoto,

percorrem sedas lisas,

o corpos das lixas,

a pele bronzeada

da mulher tão distante.

V

meu olhar tridimensional

capta, ainda, o muro da China,

o mundo que verei amanhã,

lugares onde não estive,

o homem invisível.

*

sentidos afiados,

em posição de sentido,

sentem o que vai

ser inventado no próximo século.

Amém!

[gustavo drummond]