pausaram a vírgula,
ela parou também o ponto-e-vírgula;
duplicaram à crase com dois pontos:
ô artigo O!
chamou o artigo A,
o O, que pouco se dava ao gênero, respondeu: Ah!
não tema, o trema vai-se embora com tranqüilidade,
atônito, o pronome átono postou-se, enfim, após o verbo,
desconfiado, se retirou de lá, e ponto final.
a sintaxe, relapsa, inapta, abstraída,
pareceu-me prolixa, redundante,
por isto gritou-lhe o pleonasmo: suba para o alto!
a ironia riu, como se somente ela tivesse entendido a metáfora,
e esta, insatisfeita, reclamava do duplo sentido.
chorava o hífen, ele, o hímen das palavras compostas
fora violado, algumas delas agora andam por aí, agarradas,
contrarregras e bons costumes, sem um traço de pudor.
o neologismo perdera o medo de ser deletado,
puro anglicismo, delatava ele,
abriram-se as aspas, fecharam-se os parênteses,
o aposto do rei do carnaval foi deposto em preposição de
não se sabe quem, daí o advérbio ficar fora do tablado
e o adjetivo qualificar o regnicídio da língua morta.
a flor do Lácio se dera, toda ela:
vocábulo, gramática, etimologia, estilos;
viva, pedia, porém não me vinha a tal poesia.
tive de deixá-la, abandoná-la qual noiva no altar,
ela que se dê aos doutos, os outros, eu
trazemos o poema no olhar.

 
Ai, as crianças... Para elas
      há um mirante iluminado no olhar de Alécio
      e sua objetiva,
      (mas a melhor objetiva não serão os olhos líricos de Alécio?)
Carlos Drummond de Andrade