RESISTÊNCIA

interromperam o dia.

a fome, a esperança, o orgulho

não ficaram em suspenso,

vilipêndio, assassínio, truculência,

eis que nos entra cotidiano inteiro,

nos sonhos, amores, humores,

nas filas, namoros, penhores,

a hora grave do fuzil.

um grito molhado em vermelho

o júbilo humano,

tristemente humano

inaugurando o horror de anos

passados e jamais ausentes.

hodiernos extremos, sabe-se quem perdemos

em torturas, atentados, guerrilhas,

sabe-se o que pensamos

em música, cinema, poesia,

arte à parte, sofremos todos.

sequer há mártires para se homenagear,

não restou um ideal, um desejo,

um vôo espontâneo da graúna.

restamos nós, convencidos a sermos

passivos foliões na perpetuada vitória golpista.

resista.

morreu hoje, com 45 anos de atraso, o coronel erasmo dias. a morte iguala todos os homens, o tirano e carrasco agora é apenas pó, como àqueles a quem torturou e matou.