TEMPORAL
céu cinzento
como se fosse desabar
um oceano em queda livre
inundou meu quintal
vento
que arrastou multidões
enxurrada carregou
sua foto em branco e preto
o disco de Djavan
o vazio da alma
a pouca calma
que habitava
em mim.
lavagem cerebral
lavou as escadarias
do meu corpo trêmulo
causou tanto mal
hemorragia fluvial
hecatombe incomum
granitos, granizos,
chove em mim ...
os profetas temiam pelo fim
apocalíptico
pastores bradavam: Ele
voltou
ascetas se benziam
com etílico
as beatas armaram-se
de terços, novenas
como uma novela
noir
de repente
fêz-se brando
o tempo
calmaria
prevaleceu
nada morreu,
só uma utopia
demente,
de noite de verão!...
[gustavo drummond]