Ao som de Schumann
Neva ininterruptamente! . . .
As cortinas estão cerradas;
Recuso-me a abri-las
Para na aumentar minha impotência, meu tédio . . .
Essa neve infinda é uma avacalhação,
Uma letra de bolero mexicano,
Composto para se ouvir diante de um balcão de botequim,
Fumando cigarro barato,
Bebendo cachaça falsificada . . .
Suicidar-me? Não.
O ópio ajuda a evadir-me . . .
Lembro-me de ti, bela e elegantíssima Astrud!
Quisera ser como tu que encaras o inverno
Como uma coisa natural e necessária.
Recordo-me, com um misto de nostalgia e horror,
Que te sentavas diante da lareira,
Bebendo vodka e ouvindo Schumann –
Meu Deus, era terrivelmente angustiante
Ver a neve cair, si-len-ci-o-sa-men-te,
Ao som de Schumann
Como se fosse uma condenação ao degredo! . . .
Em dias assim, a lucidez é algo inviável,
Por isso encharco-me de vodka, de ópio e de blues . . .
Quando o inverno acabar, avisem-me!
Por enquanto, quero esquecer-me
Desse cenário deprimente,
Dessa brancura soturna:
Minha banda da terra é outra! . . .
Oliveira