O POETA E O MECANICO
O POETA E O MECÂNICO
O mecânico aperta
Tudo quanto expressa.
Enquanto o poeta
Chega manso
Sem um pingo de pressa.
O mecânico acha que tudo
Tem conserto.
Enquanto o poeta acha
Que quando quebra
Não tem jeito
O mecânico chega risonho
Pondo em tudo, defeito.
Enquanto o poeta chega
Ajeitando, encaixando, só para rimar.
O mecânico chega apertando
Porca, parafuso solto,
Desamassando o amassado.
Enquanto o poeta chega safado
Sorrindo com malicia
Dizendo: Aperta, apalpa...
O mecânico é capaz
De levar uma mulher ao céu
Num momento, e na volta,
Deixá-la no inferno.
Enquanto o poeta leva-a ao céu
E na volta a transforma em anjo.
O mecânico quer uma mulher esperta
Que tenha carro com defeito
Para ele ir se enfiando dentro
E mostrar seus apetrechos
O poeta não!
Ele quer uma mulher simples
Que goste de flores, de poesia,
Que seja moleca e que faça
Muita festa quando ganha
De surpresa um beijo.
O mecânico quando perde
Perde o rumo, e o perde de vez.
Às vezes não tem volta,
E se há, aperta demais, afrouxa demais,
Tudo é demais e de uma só vez.
Enquanto o poeta quando perde,
Perde-se em pensamentos,
Vagarosamente, tentando eternizar
Só o que foi bom e o faz sem pressa.
O mecânico não pode ver
Uma Maria, uma Tereza...
Se for mulher sai logo correndo atrás
O poeta pode até parar,
Admirar sua beleza
Mas musa mesmo só tem uma
Aquela que faz seu pensamento sorrir.