O POETA E O MECANICO

O POETA E O MECÂNICO

O mecânico aperta

Tudo quanto expressa.

Enquanto o poeta

Chega manso

Sem um pingo de pressa.

O mecânico acha que tudo

Tem conserto.

Enquanto o poeta acha

Que quando quebra

Não tem jeito

O mecânico chega risonho

Pondo em tudo, defeito.

Enquanto o poeta chega

Ajeitando, encaixando, só para rimar.

O mecânico chega apertando

Porca, parafuso solto,

Desamassando o amassado.

Enquanto o poeta chega safado

Sorrindo com malicia

Dizendo: Aperta, apalpa...

O mecânico é capaz

De levar uma mulher ao céu

Num momento, e na volta,

Deixá-la no inferno.

Enquanto o poeta leva-a ao céu

E na volta a transforma em anjo.

O mecânico quer uma mulher esperta

Que tenha carro com defeito

Para ele ir se enfiando dentro

E mostrar seus apetrechos

O poeta não!

Ele quer uma mulher simples

Que goste de flores, de poesia,

Que seja moleca e que faça

Muita festa quando ganha

De surpresa um beijo.

O mecânico quando perde

Perde o rumo, e o perde de vez.

Às vezes não tem volta,

E se há, aperta demais, afrouxa demais,

Tudo é demais e de uma só vez.

Enquanto o poeta quando perde,

Perde-se em pensamentos,

Vagarosamente, tentando eternizar

Só o que foi bom e o faz sem pressa.

O mecânico não pode ver

Uma Maria, uma Tereza...

Se for mulher sai logo correndo atrás

O poeta pode até parar,

Admirar sua beleza

Mas musa mesmo só tem uma

Aquela que faz seu pensamento sorrir.

MARGARYDA BRITO
Enviado por MARGARYDA BRITO em 14/09/2009
Código do texto: T1809336
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