O SER POETA

Versos são como sangue nas veias...

Aliás, é um pouco do sangue sugado das artérias.

Purificados se alastram iguais teias.

Pelos poros adentram ao âmago da matéria.

A lógica fugiu desse sentimento violento:

poeta e escrita!

Se lhe faltar esse alento,

melhor que o leve a cripta.

Poesias são doações para humanidade...

Assim como vidas são entregues à literatura.

Se nelas alguém encontrar um fragmento imundo,

sofreria muito, seria uma desventura.

Pele perfeitamente serve de pergaminho.

Tormento seria a falta do que escrever.

O sangue supre a ausência do pigmento.

Pena feita dos pelos, na possibilidade de não tê-la.

Na expressão desprovida do sentido,

verticalmente, o poeta realiza um acróstico.

Num fenômeno abstrato e desluzido,

o seu ser em êxtase, concretiza o apoteótico.

Exalta a hegemonia da criação,

revela o belo indizível da natureza,

tudo e nada faz constar nos seus versos.

Sem poesia a existência fica desprovida da pureza.