Um sonhador incorrigível!
Uma definição exata do meu "eu" seria uma maldição. Maldição sim! Maldita a hora em que for eliminada minha liberdade de transmutar. Sou geométrico. Posso ser redondo. Já fui quadrado! Quadrado é muito difícil mudar. Se redondo não muda, é fácil mudar de lugar (com um pequeno empurrãozinho). Ai de mim se não mudar. Mudo constantemente como alguém que muda de roupa. Hoje eu sou "isso" e amanhã sou outra "coisa". Se eu fosse "certinho" era falso. É. Talvez eu seja um erro - um erro quase bom. Bom nada. Sou amargo. Bom é chocolate. O amargo faz bem ao organismo. Perfeito é o que nunca quero ser. O perfeito deve existir num enorme vazio. Então, queira-me só na medida certa, ou seja, em pequenas quantidades. E assim sendo, enquanto existir em mim essa "virtude" de mudar, vou continuar escrevendo. Pronto, achei um culpado: o meu desejo de escrever.
Entendeu ou quer que eu desenhe?
MEUS VERSOS
Não quero compartimentar com rigidez meus versos,
facilitando compreensão aos que desejam declamá-los.
Deixo-os livres das rimas,
rimando-os no contexto de cada interpretação.
Não pertencendo à arte da literatura,
transcendendo a classificação do lírico,
seja simplesmente arte! Minhas belas travessuras;
coexistindo com a libido da humanidade.
Quero isentá-los da gramática,
reduzindo-os às frenéticas ações moleculares,
exaltando-los iguais grandezas cósmicas,
fazendo habitá-los,
nos que ousarem recitá-los.
Não quero restringir meus versos,
permitindo humanas limitadas categorias;
melhor que não existam!
Desejo que meus versos sejam beduínos,
nômades do infinito estrelado,
ausência da flâmula que detona a explosão nuclear,
composto natural que produz a fotossíntese,
indizível noite de luar,
a singela expressão do meu amor,
da minha dor...