A IMPORTÂNCIA DE UM NOME

Isalina não é nome pronunciável
longe da Vila.
Defronte desta casa
o melhor é calar.
Catar os cacos e recompor os elos
que me prendiam aos teus braços
às tuas tranças, às tuas mãos,
ao teu sorriso.

Desapareceste da minha vida
mas não desapareceste de mim.

Deixaste um nome e junto dele
uma porção de imagens.

Ou será uma poção de imagens?

O certo é que quando falo Isalina
Isalina não vem mais. Mas vem
uma longa ausência espiando
sua passagem pela Vila
e pela minha vida.

Ela estava no primeiro das coisas:
com seus olhos exatos,
as mãos retas e reticentes,
o corpo grande, inocente.

Isalina é território etéreo,
permanência cultivada.

É fonte que não foi feita por Bernini.
Mas ainda assim é fonte:
água musical e colorida.

Talvez não seja também a Roma negra do Darcy.

Mas é certamente a força motriz
da música da minha voz antes da palavra,
água repousante
no lago, lenho queimando, luz
no peito solar, signo indecifrável.

No palco della lucce sobram sombras
de tudo aquilo que não existe mais
e teima em existir tão perto
como o parque diante desta moradia nova.

Jorge de Lima afirmou: O nome afinal
que importa à essência de um poema?

Mais tarde, outro poeta amado
registrou a sua perplexidade:
mas que importa um nome a esta hora
do anoitecer em São Luiz do Maranhão?

E eu, poeta bem menor, que nunca passei
pelo fundo do Inferno, nem pelo alto do Purgatório,
que desconheço o Paraíso --celestial ou terrestre,
importo teu nome
para celebrar em sigilo teu contorno inconsútil.

Emerges da multidão
mas não visualizo teu vulto.
Sei que não carregas nenhuma oferenda
aos deuses crucificados.

Estás viva e muda
diante das três margens do Rio
e sabes que a alma
só se lava mesmo é na lama
ou no coração das águas.

Recebi do companheiro José Carlos Gueta, do Recanto de Letras, não só uma mensagem generosa e estimulante. Recebi um poema de sua lavra reinventando a minha querida e inesquecível Isalina –e o meu próprio poema escrito em homenagem a ela.
José Carlos Gueta é um poeta do ABC, nascido em Santo André em 1953. Já participou como jurado em programa de TV, declamador e conquistou o primeiro lugar em um concurso de frases sobre qualidade promovido pela Volkswagen. Considerado homem dos sete instrumentos, José Carlos ficou entre os dez primeiros colocados no concurso de “causos” da Pirelli do Brasil. Trabalha com design gráfico e teve poemas incluídos na II Antologia Tango Poesia.
Eis o seu acróstico, revisitando Isalina e o meu poema. Uma homenagem belíssima e que me deixou profundamente comovido.

I mportância de um nome pronunciável na minha mente
S
omente ausências das suas tranças, mãos e sorriso.  
A
s mãos retas, corpo volumoso, grande e inocente.  
L
onge de mim que não passei no alto do seu paraíso.
I
nferno de Dante, não! Águas repousantes que emana.
N o palco da noite cortinas fechadas, luzes apagadas.
A lma emergente, lavada no coração das águas, na lama.