Espelho infiel


Macaé, 03.02.84
Eu olho no espelho e não me identifico
Não por questão do feio ou mais bonito
Mas e, mais precisamente,
Pela imagem que, para meus olhos
O espelho tenta traduzir e não traduz
E quando vejo meus olhos refletidos
Eles me mal refletem, exatamente,
Porque lhes servem as imagens
Que recebem do cérebro
E que, a mim mesmo, mal traduz!...
Eu sou um ponto distante,
Talvez, um ponto sem luz
Mas guardo em mim, sem ciências,
Coisas que a física... Reflexo... Não traduzem!...
Guardo a criança que o espelho não reflete...
O jovem que ele não quer ver...
Ou teima por não aceitar!...
Não, não!...Não sou o velho
Que, ele teimoso, insiste em mostrar!...
Vou te quebrar espelho meu,
Exatamente, por refletires
O que de mim não quero ver!...