Mar de Iparana
Quando penso em nós,
Caminhando diante do mar de Iparana,
Sob a púrpura do crepúsculo,
Nossos corpos bronzeados,
Invade-me uma ternura antiga
Que teima em sobreviver,
Apesar da fugacidade dos anos,
Apesar da distância intransponível que nos separa,
Que nos tornam dois entes solitários.
Quando penso em nós,
Caminhando diante domar de Iparana,
Vêm-me à lembrança as canções que cantávamos
E que compunham a trilha sonora de nosso amor . . .
Tínhamos o mar por confidente e testemunha,
Tínhamos o mar a embalar nossos sonhos
No aconchego de seu colo maternal:
Dormíamos e sonhávamos outros mares,
Com ilhas orladas de coqueirais,
Mar verde-esmeralda beijando a areia branca
Numa carícia sensual e extasiante . . .
Quando penso em nós,
Caminhando diante do mar de Iparana,
Invade-me uma saudade com a cor de rosas murchas,
Esquecidas entre as páginas de um velho livro de poemas . . .
(O livro está no sótão de uma velha quinta,
Sobre uma mesa empoeirada,
Morgando a espera de que chegue o outono
Com suas tardes monótonas e vazias,
Com o gotejar agonizante das folhas empalidecidas
Que se desprendem numa verticalidade sonolenta
E se esparramam no chão, silenciosamente,
Cumprindo um ritual milenar
De se deixarem levar pelo vento
Até se perderem no infinito . . .)
Quando penso em nós,
Caminhando diante do mar de Iparana,
Descubro-me outro: longínquo,
Distinto de mim, despido da realeza que sonhara,
Vestido de solidão . . .
Oliveira