Tempo Pascal
Espero a ressurreição dos mortos.
É tão simples a vida do homem puro
Que espera a segunda vinda do Senhor
Como quem espera o trem na estação.
O fogo dança nos lampiões, volta-se para o alto,
Os cadáveres das crianças sorriem beatíficos,
As flores crescem dos túmulos para o sol,
Os pássaros revoam com o delírio da luz.
O meu pai segue com o arado abrindo a terra,
A minha mãe cultiva as dálias da manhã
Nas fazendas de Deus, nos jardins do eterno.
Atravessei os areais do deserto na noite,
Mastiguei as pedras da aranha da angústia.
Espero a ressurreição como quem espera a chuva.