Mas apenas aparentemente de repente

Esquecer é impossível

A gente inventou essa palavra

Para poder sorrir

É

Todavia

Um dia

Quem sabe daqui a quantos anos

Eu imagino

Aqueles velhinhos

Sempre que os vejo

Calados

Taciturnos

De olhar perdido

Eu imagino

E amo isso

Eu fico sonhando com o que eles estão lembrando

Sim por que

Depois de certa idade

A gente deixa de pensar

E passa a viver

Daquilo que guardamos

Dentro do nosso coração

Dos nossos porões

Coisas boas

E más

Segredos que não revelamos a ninguém

Coisas que temos medo de pensar quando

Nos encontramos sozinhos,

Ou não...

Sabe

Tem mais disso do que você possa imaginar

Tem mais disso do que o que eu possa te dizer

Somos as nossas lembranças

E esquecer qualquer coisa

É esquecer-se a si mesmo

Como um suicídio

Você entende?

A vida era para ser simples

E é

Para quem finge viver

Para quem vive como quem tem a capacidade de esquecer

É como um copo

Uma balde

Um rio

Um mar

Vai enchendo

Uma hora transborda

Vem para fora

Todavia

Nós somos extraordinários

Nós temos a infinita capacidade de suportar

E, de repente,

Mas apenas aparentemente de repente

Se foram nossos amigos

Se foram nossos amores

Se foram nossos sonhos

E estamos lá assim meio que esquecido

Velhinhos

Cansados do falar

Do discutir

Do praguejar

Do discordar

Sim

Tudo nos cansou

É hora de aceitar

E é então que cada um

Vive os valores que tem

As lembranças que consegue resgatar

Por que apesar de elas não se irem nunca

Acontece muitas vezes de elas não mais se revelar àqueles que um dia as renegaram

E resolveram viver uma vida que não existia

Num olhar silencioso

Pode existir muita felicidade

Mas também pode haver mais que isso tudo

E mais que o que eu possa falar

Mais que qualquer pessoa possa dizer

Mais até que o que todas as pessoas do mundo inteiro

De todas as épocas

De todas as etnias

De todas as religiões e credos

Possa dizer

Seja quem ou como for

Diga quem diga o que diga

Num olhar silencioso de um ser velhinho como eu já vi e mais ainda como eu imagino

Quem pode está observando o mundo através dessas janelas

Os olhos

Pode ser a dor

A dor que faz o mundo tremer

E o coração gemer

Gemer em silencio esperando a morte que parece que nunca vem

É isso,

Mas você sabe,

Não apenas isso,

O que isso não abarca,

É infinitamente maior que isso...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 08/05/2009
Reeditado em 08/05/2009
Código do texto: T1583218
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