Poema de Fim de Tarde
"Hoje a cidade anoiteceu
antes de mim,
antes de marte,
da arte, como parte,
do que existe em mim.
Hoje as nuvens tomaram o céu
de mim, de você,
de todos os que,
sem saber por que,
amam infinitamente conscientes
do mal, do sofrer,
do querer bem,
do morrer docemente.
Hoje o poema morreu,
o poeta também,
e tudo também,
só restei eu mesmo,
e a distância
que nos impede de sermos felizes
como dois que se procuram
nos bolsos, nas fotos na carteira,
nos olhos, nos sinais de trânsito.
Hoje o dia anoiteceu
mais leve,
só em mim o céu é mais negro,
só em mim
o amor floresce."
"Amigos morrem,
as ruas morrem,
as casas morrem.
Os homens se amparam em retratos.
Ou no coração dos outros homens." (Gullar, Ferreira; "Improviso Ordinário Sobre a Cidade Maravilhosa" - Na Vertigem do dia, pág. 106)