A BLASFÊMIA DO MAU LADRÃO
Ah! Maldita piedade piegas que acomete-me feito gripe
Quando toca-me o lamento do caído, dos sem-Fortuna
Daqueles que até as calças lhes foram tiradas.
Maldita sina cristã a mim imposta como mandamento
Prioritário, a livrar-me de Infernos ou Purgatórios
Oferecendo-se, contrapartida, um Paraíso no Céu
- Paga duma praga de mãe! dita Deus, devidamente Christus
A apontar-me sempre seu Santo Indicador Acusativo cobrando
A juros agiotas, meu único pecado:
Pensar! sem temer
Sentir ! sem temor
Viver ! todas as consequências possíveis
Eis o que em mim é trino e santíssimo!
Não o maldito Abismo Solitário que Tu, Galileu Contestatório,
Impingistes à Humanidade!
Por que não calastes tú ainda mais ao carregar teu
Próprio lenho?
Não sabias, Nazareno, que melhor servirias ao Mundo
Fincando-te no ofício de teu pai,Yosif?
Acaso não talhastes cruzes para vendê-las aos Romanos?
Acaso Yosif não cumpriu-se como o mais comum dos Galileus?
Acaso proclamou-se Yosif deus alguma vez, quando eras tu
criança?
Ó Rei dos Judeus, responda-me, por Yaveh...!
Minha Maldita Piedade intui a compaixonar-me de ti.
Que em vão, feito Cordeiro, como dissestes tu mesmo de si,
Abandonaste-te ao Sacríficio, morrendo pela Palavra
Qual Peixe fisgado pela própria boca
De divino, legastes como herança à posteridade dos outros
(pois consta que não a tivestes)
A memória de que derrubastes um Império
Com tua Verdade que proferistes à exaustão
Como um bordão renitente quando vos traiu a carne
Rogastes:
"Amai-vos uns aos outros porque não sabem
O que fazem"
SIQUEIRA, Leuzo in "O LIVRO DE ANOTAÇÕES DE DIMAS, O BOM LADRÃO", (Poesias/inédito), 2a. postagem www. em RECANTO DAS LETRAS/minha escrivaninha-( manuscrito jun/2000)