Poema Que Se Fez
Gastei uma hora pensando um verso
(...)
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
(Carlos Drummond de Andrade)
Sem pensar vou escrevendo
Este poema, vou colocando
Palavra após palavra
E depois vejo no que dar
É noite avançada e o sono
Esperado ainda não veio
E o poema às vezes também
Não quer se mostrar.
Nasça poema, sem força
E sem teimosia porque,
Em alta noite, em solidão,
És para mim uma fria
Forma de alegria!
Nada foi pensado, pesado, medido.
A cima ou abaixo, a palavra
É sangue que vai por veia aberta,
É fruto de um fluir natural.
E só escrevo este poema porque
Escrevendo chamo o sono,
Engano o tempo, me sinto bem.
Porém a palavra empaca e é
Hora de pensar se é certo
Continuar um poema assim,
No entanto, penso que pensar não
Faz bem e adio do poema o fim.
Não penso, o poema cresce,
A noite avança acavaladamente.
O sol não demora a chegar e sei
Que a luz do dia é fria a minha mente.
A palavra é o pensamento,
É exatamente o que estou pensando
Penso a tinta, penso o branco
E o poema também vai se formando...
Por que vou falar de coisas
Neste meu poema acontecido
Que só me farão pensar que
Quase tudo é proibido?
Melhor é depois riscar a pergunta
Acima. Quem pergunta pensou
E eu não quero pensar,
Quero viver um dia após o outro
E no fim de tudo vejo o que dar.
O Poema da vida é longo,
Mais longo que este poema
Que não posso terminar,
Em seu fim deixarei reticências
Se até lá em nada pensar.
Não sei por que estas rimas
Pobres, não consigo entender
O porquê de um poema
Não pensado assim se resolver.
Mais uma rima que se eu
Pensasse não colocaria.
Porém, o poema é que acontece
Na mais louca alegoria.
Vamos poema, chega de repetição
Para mente tu és uma tortura
E quem te ler verá que teu autor
Era uma simplória criatura...