Bárbaro
Tenho andado nestes dias
De certo modo
Um tanto quanto sem geito
Tenho andado nestes dias
De certo modo
Com constate nó daqueles bem apertados
Será este um sinal
De que espero o fim
Aquele derradeiro
Que leva o sujeito
A sentir-se assim
Exatamente assim, como forasteiro
Forasteiro em sua própia Pátria!
Não me venha falar!
Mas que Pátria proclamo
Se sinto um não pertencer a nada, nada
Absoluta é minha solidão
Infindável meu tormento
Sigo pela coisa toda, procurando sentido
Mas sentido não encontro
Apenas retorno ao princípio do conto
Será possível, não lembrar-me do final
Uma história assim tão banal!
Então permito que a vã loucura aos poucos consuma
Que corroa de vez, mas não deixe sobrar resquício sequer
Do poeta, mas que poeta!
Nem poeta sou
Penso apenas ser
Iludo-me em escrever minhas insanidades!
Busco aquela frase, aquela
Que fará efeito
Que soará como única, fenomenal
Ora, ora, quando será soprada afinal?
Não faz mal, talvez a boa estrela da sorte chegue desta vez
Tantas mediocridades já foram consideradas
Obras primas celebradas
Quem sabe, as minhas sejam, um dia qualquer
Exaltadas como grandes mediocridades!
Quantas letras ainda terei que juntar
Quantos retalhos á remendar
Apenas, apenas para criar, criar algo inédito?
Quanta canalhice escrevo
Quanta invêncionice prescrevo
Quanto sem geito sou!
Buscando o que perdido está
Venham homens de branco com seus aventais
Suas camisas de força
Encerrem-me num hospício qualquer
Quero vagar por corredores escuros
Viver a pura e única falta de sanidade
Quero deixar o protocolo de lado
Viver sem regras, etiquetas, costumes
Bárbaro contemporâneo!
Sim, exatamente isto, encontrei o que almejo
Bárbaro contemporâneo
Deixem-me absorver toda a essência de ser bárbaro!
Então livre, liberto serei!