Amigos inventados
Meus amigos, que são muitos,
São todos inventados,
Desde o mais amigo dos amigos
Até aqueles que só são amigos degenerados...
Meus amigos são todos inventados.
E os que não invento sozinho
Aqueles que por ventura em alguém real é inspirado
São todos eles modificados
E passam a ser meus amigos
Apenas depois de serem redesenhados,
Meus amigos,
Se são amigos, são todos inventados.
Navegam na minha solidão
Os amigos que tenho amealhado
E cada um me entende de uma forma
De um jeito que me tem me revelado
E se por acaso uma das infinitas faces
Titubeia, e permanece oculto
O que tem que ser revelado,
Pego de pincel, e da tinta num painel especial,
Surge o rosto de um amigo que
Ainda, até ali, permanecia resguardado,
E assim é que cresce o Leque infinito
Dos amigos inventados...
A minha solidão é uma sinfonia
Das infrafalas dos companheiros imaterializados,
Estão sempre ao meu redor
Dando forma aos pensamentos disformados
Meus amigos,
Minhas dores,
Meus anseios e sonhos que não podem mais
Coexistir com o mundo no qual tenho me perdido,
Me afogado...
Mas eu sou feliz... sou sim
De maneira ainda impossível
De ser retratado...
E num dia de sol
E num dia de chuva
Nunca estou sozinho
Há sempre gente pelo caminho,
Mesmo que olhos alheios
Nada percebam
Desse mundo impalpável
Ali, a ir e a vir,
Há pés
Que levam e que trazem
Seres para quem eu tenho um significado,
Pois posso, a olhos alheios,
Ser ilhado, todavia,
Eu me reinvento, completamente
Habitado...
Meus amigos são todos inventados...