O que me disseram
1999
Muitas faces me deram
Desconhecido próximos
Em riste,
Como conhecedores do futuro,
Que de certo jeito eu seria.
Muitos me diziam coisas
Que eles próprios não sabiam,
Entre tantos gestos duros,
E palavras de intimidação,
Eu sonhava no escuro,
Imerso em completa solidão,
Com inefáveis carinhos
Que acalentassem meu coração.
Hoje a face que tenho
É uma estranha com quem convivo
Não sei em que ponto comecei,
Mas não sou nem o indigente,
Nem o rei,
Se cheguei, é sem saber de onde venho...
A mulher incorpórea que amo
Visita-me na noite avançada
Como a querer-me dizer,
Numa língua sobrenatural,
Que sou algo,
Que não sou nada...
No entanto seus gestos,
Tão carecidos,
Não me alcançam em meio à grande madrugada...
E assim, entre as faces que me deram
Incitado por voz de mulher desincorporada
Atento a uma em que me reconheça
Sonhando com o dia em que deixarei
De ser coisa alguma, um quase nada...