O que me disseram

1999

Muitas faces me deram

Desconhecido próximos

Em riste,

Como conhecedores do futuro,

Que de certo jeito eu seria.

Muitos me diziam coisas

Que eles próprios não sabiam,

Entre tantos gestos duros,

E palavras de intimidação,

Eu sonhava no escuro,

Imerso em completa solidão,

Com inefáveis carinhos

Que acalentassem meu coração.

Hoje a face que tenho

É uma estranha com quem convivo

Não sei em que ponto comecei,

Mas não sou nem o indigente,

Nem o rei,

Se cheguei, é sem saber de onde venho...

A mulher incorpórea que amo

Visita-me na noite avançada

Como a querer-me dizer,

Numa língua sobrenatural,

Que sou algo,

Que não sou nada...

No entanto seus gestos,

Tão carecidos,

Não me alcançam em meio à grande madrugada...

E assim, entre as faces que me deram

Incitado por voz de mulher desincorporada

Atento a uma em que me reconheça

Sonhando com o dia em que deixarei

De ser coisa alguma, um quase nada...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 28/10/2008
Reeditado em 28/10/2008
Código do texto: T1252268
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.