Solução encontrada

Não faz muito tempo

Eu desejava ser compreendido

Mas não me explicava

Era assim que eu queria ser compreendido

Sem dizer palavra

Num olhar ser desnudo, lido...

Demorei o necessário para saber

O que eu almejava das pessoas

Que porventura encontrasse,

Em silêncio resumido

Ser compreendido,

E entender,

Captar na áurea revelada

Daquele que me olhava,

Que encontrara a alguém

Que me encontrara também...

Todavia, esperar das pessoas,

E nelas, característica essa,

Talvez tenha contribuído

Para a formação da densa massa

De solidão que me ronda,

Que faz o passo pesar, lento,

E segue-me onde quer que vá,

Porque para ser o que for

Não existe lugar,

É mundo, o universo,

Onde se está,

e se está onde pousa nosso pensamento,

E nosso pensamento vai a qualquer lugar,

E até mesmo onde não é lugar,

Onde não existe geometria,

Onde é impossível mensurar...

Querer que uma tal pessoa

Veja-me como vejo a ela,

A todos, a ninguém,

Talvez tenha contribuído

Também para a formação

Da que está sempre ao lado,

Talvez seja falta com o irmão,

Falta de compaixão...

Não faz muito tempo

Decidi não desejar mais coisa tal,

Nem coisa qual,

Apenas me desloco na trajetória possível

E, se alguém bate a porta da percepção,

Digo olá,

E digo olá ao ermo,

À noite, à escuridão...

E sigo, mas paro também

Se assim alguém desejar,

Porque as pessoas querem falar,

Porque a dor é imensa,

E gritar não é solução,

E aquela daquelas,

Se é ouvida com atenção,

Dissipa-se a dor, vai-se embora...

Então eu faço um amigo, talvez não...

Mas levo comigo

Cravada no coração

A lembrança de alguém

De sua história, sua comoção,

E pelo caminho, aqui e acolá,

Em lugares remotos,

Vou me desfazendo

Do peso recebido,

Os deixo como que escondidos, esquecidos

Para nunca mais a alguém essa dor encontrar,

E assim minha vida vai seguindo,

E eu mesmo vou me diluindo

Em combinações, amalgamadas as recebidas

Eu disperso uma dor em mim recolhida

Confundida com a semelhante que me passaram

Os seres que fui e vou encontrando

À beira, ao longo da estrada,

Enquanto dura essa dura caminhada...

E assim quanto mais peso eu recolho,

Quando mais recebo coisas doloridas

Mais leve, ali adiante vou me fazendo,

Em favor de mim mesmo o bem volta

Se é bem o material da ação produzida...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 25/10/2008
Reeditado em 25/10/2008
Código do texto: T1246938
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