CEMITÉRIO DE BARCOS
Esqueletos de barcos, praticamente submersos,
pela areia das praias, agonizam aos ventos e
às intempéries.
Mas se se escutar o vento, entrando pelas madeiras
corroídas, quase que se pode imaginar, uma
outra vez, novíssimos barcos, singrando os mares.
Passam indiferentes as pessoas, ante a história e o
trabalho de anos; galgando ondas, numa ferocidade,
entre o mar e os pescadores, tentando chegar a casa.
Muitos homens perderam aí sua guerra particular, com
o mar, e, em louca aflição, já sem forças, renderam-se
ao evidente, despedindo-se de seus companheiros.
Quantas lágrimas derramadas, por essas simples casas,
quando as notícias funestas, chegavam aos ouvidos das
famílias, acendendo velas, rogando aos céus sem resposta.
Tudo isso nos diz os barcos, agora submersos, pelas areias,
findo os tempos áureos e o árduo trabalho, postos a um
canto, como coisa qualquer, simples banalidade.
Jorge Humberto
15/10/08