A perda conquistada
Em fim aqui estou...
E sob esta árvore, situada na cabeceira do caminho fragueiro,
eu espero há longos dias por um sinal seu.
Você disse que um dia encontraria as respostas,
e que os caminhos percorridos,
quando chegasse as suas finitudes,
confluiriam para o encontro por demais desejado.
E aqui estou, e não te encontro...
Difícil não pensar que de alguma forma esqueceste-me, meu amigo.
Mas eu me lembro, lembro-me ainda dos teus cabelos revoltos,
longos fios empoeirados,
que tanto chamaram minha atenção naquele instante,
e que sucumbiriam eternamente gravados nas pupilas deste seu interlocutor...
Se eu soubesse de alguma canção de evocação,
como as das antigas tribos que habitaram os fundos de nossas casas,
eu agora a entoaria afim de que você aparecesse,
mesmo que por um instante, e me dissesse qualquer coisa, amigo...
Mas foste sempre enigmático.
Às minhas indagações nunca deste uma resposta completa,
ou eu não compreendia bem os teus chistes.
Sei apenas que nesta hora,
vislumbrando os horizontes aos longes,
eu queria muito te encontrar neste lugar...
É certo que o tempo mudou algumas coisas,
mas me recordo bem,
foi aqui que um dia te encontrei,e falei contigo com as ânsias a fazer
meu peito tamborilar de modo inédito.
Não sei de onde vieste,
apenas quando me contorcia todo,
revolvido por emoções diversas,
a ter-me sozinho longe de casa,
dei-me contigo a olhar-me profundamente
como se fosse um que aprumava os segredos da vida
e eles assim parecessem já revelados,
sem a força para tolher o mínimo movimento das pestanas,
nem embranquecer mais as cãs que enfeitavam teu semblante,
como se tu fosses o senhor das tempestades.
Então me disseste aquelas coisas,
mostrastes-me o quanto ainda teria que viver,
a ponto de não enlouquecer,
a ponto de chegar um dia a este lugar,
por muito tempo perdido para mim,
e tivesse a paciência de te esperar,
mas de alguma forma ciente, meu amigo,
de que tu não irias mais voltar...
Eu sentado onde um dia te vi, agora sei,
espero apenas o próximo, na escala que segue,
para poder conversar ainda uma última vez.
E depois, igual que tu,
Desaparecer nas imensidões, e me livrar...
Sim, ir, ir sempre, sem para trás olhar...
Ir como se esquecesse tudo,
Ir mais leve que o mais leve ar...