VAZIO

Foram todos os beijos, todas as salivas,

águas-vivas brotadas de línguas-de-fogo,

todo jogo de corpo e percurso das mãos,

tantos nãos em gemidos temperando sins...

Foi um mundo só nosso, de gozos e seivas,

uma lavra de amor inundando canteiros

de sentidos acesos em nossas entranhas;

fomos teias, aranhas e caças felizes...

Era tudo prazer; nossas almas na pele;

nossos corpos em chama enfiados um noutro;

nossa vida igual rio correndo na cama...

Somos restos de nós; dessa farra que fomos;

temos hoje um vazio, este sulco da foz

que secou na distância, na sombra, no estio...

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 08/10/2008
Código do texto: T1217904
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