OSCILAÇÃO

Ando por aí
paro em qualquer lugar.
Bebo guaraná
e vejo que Deus está
numa casa nova
e você sorrindo
por dentro. Por isso
tomemos um rum
neste lugar onde tudo
o que era já não é.

Diga aonde e quando
o amor é explicável.
Mas não repita
as ladainhas de sempre.

Meu coração é sinistro
e não está no seguro.

Tudo é justificável, claro.

Mas às vezes eu preciso ir
Não sei para onde
mas eu preciso ir.

Sou hostil ao meu tempo:
não uso relógio
e não suporto o mundo.

Por isso escrevo
quieto no meu canto.

Falo pouco, ouço nada
e vejo menos ainda.

Mas minha pele sente o sol
e arde com o sal desses
mares já antes navegados.

Camões é referência, amor.

Pessoa é paixão
--sem fim e sem começo.

Por isso diga
Diga sem frescuras
quanto custou essa mistura
essa domesticação dos desejos.

É claro que toda porta se abre
e se fecha e não adianta
o sábio explicar o combate
das substâncias.
O amor oscila entre dois
opostos: o cárcere e o refúgio.