Prometeunianamente...
Não depende de nós...
Sempre vai ser possível recomeçar
Não a mesma pessoa
Mas a que resultar
De um luta árdua, contínua
Em que vencer nunca é derrotar...
Não se aprende repentinamente
O que se deve fazer
Que caminhos trilhar
As coisas que mais vão doer
Em que pedras confiar
É preciso muito sol
Superar...
E esperar que as árvores ressequidas
Floresçam, e dêem frutos
Num tempo incicunscrito
No qual não há ilhas de solidão
Apenas a vastidão
É o que enche o nosso olhar...
É bom ter olhos abissais
Como guardar tudo, e ainda mais
O que não morre
E o que vive sempre
E sempre nos quer mais e mais...?
É bom ter leveza
Senão como poderíamos
Ir e vim nessas dimensões dúcteis
E voláteis
E ainda muito mais...?
Como poderíamos beirar a desnutrição
E também de amor
E ainda os solavancos
E porradas
E quedas
E furadas
E pauladas na nuca
E alguém a nos roubar as tripas
Se não fossemos
Assim
De uma resignação sem fim?
Mas como seja
Sempre vai ser diferente
E outro ainda mais
Nunca vai parar
Sempre está amanhecendo
E anoitecendo
E assim
Nunca o dia pode ser o mesmo dia
Tampouco quem nele entra
Menos ainda os elementos
Que dispomos
Para escrever
A nossa própria história
Comprida historia
Que começa...
Todavia não acaba mais...
Sempre vai ser possível recomeçar
Porque é impossível não recomeçar
Não depende de nós...