Teu rosto é um engano
Lamurias-te porque
Dizes tu
O silêncio de avassala o coração
E dez mil vezes tem dito a mim
Que
Ao teu contrário
Decifrei já o silêncio
E ouço a sinfonia das sombras
Pelas estradas noturnas
Da Imperatriz, cidade
Sob as penumbras de Milvus milvus
Crocitando a invocar de longe
Comparsas da mesma estirpe
Para beber do mesmo leite
E sugar do mesmo sangue
Como se a vida fosse infinda
Como se o verde não pudesse secar...
Enquanto tu te dizes cansado
Cansando de um quê inútil
Eu apenas penso
Sem emitir qualquer opinião...
Não tenho mais na veia
Nem no bolso o que tentas
E em vão
Me tirar
Já joguei tudo em poços
E
Encantados vieram os porcos
E se lambuzaram em minha saliva
E Lamberam o sal de minha pele
Quando a sudorese
Acometeu-me sem cessar,
Como se eu evaporasse
Como se eu mesmo quisesse
Como se eu mesmo me devorasse
De dentro para fora
E isso eu experimentei
E provei de tudo,
Mas há ainda muito mais para provar...
Que o que digo não seja
Para ti
Um motivo de tristeza,
Apenas saiba que em tudo
Há beleza,
Na dor e na miséria
Na guerra dos intestinos
Um devorando o outro
Enquanto ácidos
Correm a barreira estomacal...
Sim, sim
A solidão que tu criastes
Apenas a ti pode magoar
Eu sou de passagem
Te vejo de longe
E deixo os Corvos
Sangrando,
Os aduncados vorazes,
Grasnarem
Como a cantar um hino para ti
eu apenas passo
e vou por um caminho
que são os pés mesmos
que vão abrindo
assim mesmo
a pisando em folhas-humos
pedras, tocos, espinhos
terra quente para sarar
e sabe
eu te digo
pode milenar o que Milena milenar
eu não vou esquecer que te vi
não é por que, partindo, parti
que não posso te amar...
eu amo sua forma de viver,
mas amo mais milenarmente infinita
como você decidiu morrer...
pelos teus dentes sei como sorrir
mas isso não quer dizer que sejas uma pessoa boa
o teu coração o teu por fechado
mas tem gente que ver além
sorrir o teu rosto,
teu rosto é um engano
mas o que se tem no presente ...