Janelas do ser 03

Eu, secreto, que sou eu,

Conhecido somente por mim,

Totalmente ignorado por todos,

Entretanto, se me olho detidamente,

Invade-me a sensação de que estou diante de outro . . .

Sou osso duro de roer,

Não me esfacelo como broa de milho

Nas mãos de criança faminta . . .

Sou hermético, enclausurado,

Náufrago de mim no mar da vida . . .

Trago em mim o crepúsculo das desilusões,

Uso o disfarce irreal da consciência

Para esconder o que a consciência não disfarça:

Os rios infernais de minha alma,

os recantos das ruínas dos sonhos,

A paisagem hibernal de meus dias,

O mar de sargaços das ilusões malogradas,

A aridez desértica de minha solidão,

O saudosismo brumoso de minha infância perdida,

As janelas cerradas de meus sonhos pueris,

A passividade de barco velho de quilha virada

Na praia do esquecimento,

Os fantasmas adormecidos que povoam o sótão

Da consciência de quem fui . . .

Oliveira