Tem sido bom

Nunca tive muitos amigos

E os poucos que tive

Ficaram em algum lugar

Em alguma terra que deixei

Alguns outros

Assim

De tempos em tempos

Eu tive que enterrar...

Nunca tive muitos amigos

Mas de vista assim

Eu conheço muita gente

E de uma vista assim

Diferente

Eu as conheço profundamente...

Acho que por isso

Nunca tive muitos amigos

Alguma coisa se revela

A respeito de quem se revela

A mim

Assim

Apenas num olhar

É como se todos os segredos

Fossem revelados

E então uma energia se espargisse

De maneira que

Ou eu me fosse

Ou o outrem se fosse

Ou então tentássemos uma aproximação...

No entanto,

Caminharam-se assim

Uns passos juntos

É assim desconfiado...

Não eu, eu sinto a desconfiança

E vejo o futuro se escrevendo

E o presente morrendo

E vou andando...

Vou andando

E ando mais

E sabe?

Às vezes eu me absorto demais

E vejo as andorinhas

Beijando um rio

Que não existe mais...

O tempo passa

O caminho se vai fazendo

Os meus pés

Não sei...

Então

Uma leveza

Em mim se faz

E um silêncio se torna visível

E então deixo as andorinhas de trás

E me vejo sozinho

Por que ando pelo fogo

E pela água

E atravesso rios salgados

De sangue e de lagrimas

Cacimbas esquecidas

Onde mina

Uma água estranha

E paro e bebo

Alguns dizem ser de veneno

Os lábios tocam a superfície

E refletido ali

Na poça

Sinto, apesar do abandono,

Os etéreos que me seguem

Que me querem bem

Que me querem mal

Todavia

Isso a mim não tem importado...

Eu nunca tive muitos amigos

Mas não me esqueço

Jamais das andorinhas...

E tem sido bom...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 11/08/2008
Código do texto: T1123515
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