Tem sido bom
Nunca tive muitos amigos
E os poucos que tive
Ficaram em algum lugar
Em alguma terra que deixei
Alguns outros
Assim
De tempos em tempos
Eu tive que enterrar...
Nunca tive muitos amigos
Mas de vista assim
Eu conheço muita gente
E de uma vista assim
Diferente
Eu as conheço profundamente...
Acho que por isso
Nunca tive muitos amigos
Alguma coisa se revela
A respeito de quem se revela
A mim
Assim
Apenas num olhar
É como se todos os segredos
Fossem revelados
E então uma energia se espargisse
De maneira que
Ou eu me fosse
Ou o outrem se fosse
Ou então tentássemos uma aproximação...
No entanto,
Caminharam-se assim
Uns passos juntos
É assim desconfiado...
Não eu, eu sinto a desconfiança
E vejo o futuro se escrevendo
E o presente morrendo
E vou andando...
Vou andando
E ando mais
E sabe?
Às vezes eu me absorto demais
E vejo as andorinhas
Beijando um rio
Que não existe mais...
O tempo passa
O caminho se vai fazendo
Os meus pés
Não sei...
Então
Uma leveza
Em mim se faz
E um silêncio se torna visível
E então deixo as andorinhas de trás
E me vejo sozinho
Por que ando pelo fogo
E pela água
E atravesso rios salgados
De sangue e de lagrimas
Cacimbas esquecidas
Onde mina
Uma água estranha
E paro e bebo
Alguns dizem ser de veneno
Os lábios tocam a superfície
E refletido ali
Na poça
Sinto, apesar do abandono,
Os etéreos que me seguem
Que me querem bem
Que me querem mal
Todavia
Isso a mim não tem importado...
Eu nunca tive muitos amigos
Mas não me esqueço
Jamais das andorinhas...
E tem sido bom...