foto

Como se a foto conservasse

a esvaída lembrança.

Rompa essa tolice.

Essa crença.

Ilusão de ótica.

Uma foto é apenas

uma foto.

Fora de foco.

O fluido está no ser.

No sentir.

No papel, nas cores,

ondas e sensores.

Artifícios para curar

dores.

A foto apenas afeta

nossa memória.

Na foto queremos

o feito.

Mas o passado é perfeito.

Não guarda.

Não se enquadra como

um aplacar um anseio.

Tenho as minhas fotos.

Tenho minha memória.

Mas às vezes esqueço

que tenho álbum.

Numa foto apenas

encontramos o óbvio.

A foto é um disfarce.

É sádica.

Recordamos o tempo corroído.

As veias corroídas.

As fotos são meio estúpidas.

Uma compostura

esdrúxula.

Nelas presenciamos

nossas promessas

que deixamos pelo caminho.

Nelas há nosso lado bandido.

Bandido de nós mesmos.

Vítimas sem habeas-corpus.

Tristes olhos amarelos

refletidos pelo pálido

papel.

Nas fotos somos ótimos.

Não respiramos.

jeferson bandeira
Enviado por jeferson bandeira em 10/07/2008
Código do texto: T1074087
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