foto
Como se a foto conservasse
a esvaída lembrança.
Rompa essa tolice.
Essa crença.
Ilusão de ótica.
Uma foto é apenas
uma foto.
Fora de foco.
O fluido está no ser.
No sentir.
No papel, nas cores,
ondas e sensores.
Artifícios para curar
dores.
A foto apenas afeta
nossa memória.
Na foto queremos
o feito.
Mas o passado é perfeito.
Não guarda.
Não se enquadra como
um aplacar um anseio.
Tenho as minhas fotos.
Tenho minha memória.
Mas às vezes esqueço
que tenho álbum.
Numa foto apenas
encontramos o óbvio.
A foto é um disfarce.
É sádica.
Recordamos o tempo corroído.
As veias corroídas.
As fotos são meio estúpidas.
Uma compostura
esdrúxula.
Nelas presenciamos
nossas promessas
que deixamos pelo caminho.
Nelas há nosso lado bandido.
Bandido de nós mesmos.
Vítimas sem habeas-corpus.
Tristes olhos amarelos
refletidos pelo pálido
papel.
Nas fotos somos ótimos.
Não respiramos.