Uns textos DAS ANTIGAS

Vida de sempre

Há tantos doentes,

Há tantas mortes,

Há tantas vidas,

Há tantos versos.

Seus dias alegres,

Suas noites tristes,

Seus olhos vivos,

Seus lábios amargos.

Meu tempo,

Meu corpo,

Meu nome,

Na mesma vida de sempre.

Rabo de cometa

Vejo minha mão

Correndo pelo papel,

Embalando a caneta.

Com a intensa vontade

De assim escrever

No rabo daquele cometa.

Sempre o amanhã

Meu tempo é o mesmo,

O mesmo sou eu,

A estrada não é segura,

Não é segura a conversão.

Meu tempo é você,

Quem só me ignora,

O velho caminho

Que vai contra a correnteza.

Meu tempo é o mesmo,

O mesmo não sou eu,

A metade sem você;

O desencanto, a palidez.

Meu tempo são as manhãs,

São as distâncias;

Teríamos nossas crianças,

Se nunca houvesse o amanhã.

Maternal

A mãe luta para cuidar do seu filho,

O animal defende a sua cria,

Deus! Há quanto tempo eu não via

Uma mãe renegando seu próprio filho.

Coisas para se usar

Aprendemos na escola tantas coisas

Pra serem usadas na vida,

Mas ultimamente tem sido a rua

O local que ensina tantos a viver.

À margem da miragem

À margem da miragem,

Sinto-me o andarilho que encontra o oásis,

Que ao tentar tocar a maravilha,

O momento diz, em palavras mordazes:

O desejo é curto demais.

Olhar ao fundo

É leve o mergulho

Nesse imenso mundo que guarda o seu olhar.

E tão longe maior o fascínio,

Em todo o seu mistério, em torno de tudo

Que seu olhar mostra ser real.

Tudo vai adiante;

Gira o tempo, tudo tão natural.

Número

Certo número, certeza de lucro,

Razão e sentido de certo número.

Qualquer número:

Não sendo um zero à esquerda

Ou um cheque sem fundos.

Pelo que espero sempre

O que está tão evidente, o que é tão importante

E você finge estar indiferente.

O que a vida espera de mim,

O sonho que espero sempre,

O que a gente espera da gente?

No coração é que se planta a semente,

Seu olhar confunde a sua mente,

O sorriso que não é por estar contente.

O que está tão presente, o que está tão distante

E precisamos ter sempre com a gente.

O que acontece agora?

O que você sente?

Meu olhar continua mirado para frente.

Palavras febris

Mortos, mortos, sem nenhum sobrevivente,

Os sonhos que eram indigentes.

Tudo aos cacos, dilacerados os trapos.

Não deveria existir a palavra distância

No léxico dos que se apaixonam.

Gritos aos loucos, clemências aos outros.

Lados que se comprimem, penumbra; ficou tão escuro.

Fujo do passado, das palavras febris,

Do que era goma de anis e se mostra tão amargo.

E sempre, como sempre, um monte de ditados

Num livro esquecido e ainda fechado.

Os muros criados

O que deixei de fazer, o que deixei de falar,

O quanto chorei, o quanto já fiz chorar.

Tudo o que foi sem pensar,

Tudo o que pensei e não fiz,

O amargo que esteve no paladar,

O que me trouxe gosto de bis.

A lembrança de você, a saudade de nós,

Os muros criados, as lágrimas sinceras.

Vale profundo

Vale profundo, o que vale mais neste mundo?

Quantos absurdos!

Seria bom ver o mundo inteiro de mãos dadas,

Não mais guerras, não mais batalhas.

Se o vale profundo fosse de amor ao próximo.

Vale profundo,

Tão no fundo os versos mais sinceros.

No vale profundo, os dias mais prósperos.

Vale profundo, guarda os meus sonhos,

Abriga o meu mundo.

Vale profundo, este mundo surdo e mudo.

jeferson bandeira
Enviado por jeferson bandeira em 03/07/2008
Código do texto: T1062683
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