Eterna madrugada

"Como? Queres sentir...?

'Sim, eu quero...

"Já devorou quantas madrugadas?

'..., Como?...

Se você tentar aos poucos você consegue

Sentir o que eu sinto

E sentir a mim também

Não que isso seja algo importante

Mas se você pretende sentir

As pessoas apesar das distancias

E saber como elas estão

Então é bom você começar

A exercitar-se nesse sentido,

Concentre-se e abra as portas...

Abra as portas que posso chegar até ai

Abra as portas que poderá levar-me até você

Abra as portas que assim

Você mesma poderá vi até aqui

Abra as portas...

Se você tentar você consegue,

Quando você perceber

Que há mais coisas a sua volta

Mais que os seus olhos podem ver,

Então, dependendo de como está,

Você poderá escolher

Entre tantos

Com quem conversar...

Eu? Quem sou eu...

Sobre isso tudo que deixas influir

Do você interno a você

Creio que seja uma questão

De mais singela,

Não posso, nem devo,

Não podem, nem devem

Intrometerem-se,

Há coisas que apenas nós,

Nós internos,

Temos que resolver no

Intrafrio, no ultrafrio

Da solidão,

Pensando, refletindo, lutando..

Você me pergunta como

E me tem com alguém resolvido

Quisera fosse como dizes

Quisera...

No entanto, você deve saber,

Que estamos sempre num labirinto

Por mais clara que a via possa ser

Não se engane

Você está sempre tentando se resolver

Você interno,

Entenda o que estou a dizer...

Certa vez li em algum lugar

Ou ouvir

Ou apenas sentir

Ou quem sabe sonhei,

Talvez eu mesmo tenha inventado

Mas sinceramente não sei...

Sei que sobre isso que queres

Saber o como e o porquê,

Parece que um guia

Uma espécie de manual

Que alguém depois de muito reflexionar

Depois de muita busca

Depois de muito sofrer

Criou para si uma regra tal

Que dizia algo como

Você deve interrogar-se a si mesma,

Não posso ajudar,

Nem eu nem ninguém quanto a esse tipo de dor,

Cada um deve fazer o exercício do

"Conhece-te a ti mesmo."

Então você pensa consigo mesma...

Coisas íntimas

Da forma como eu penso que são intimas

Não podem ser resolvidas

nem ajudadas a serem resolvidas

Por ninguém

A não ser por quem as sente em si

Não há saída...

Você fala que pequenos atos ajudam

Mas eu digo que

A ajuda com pequenos atos é a dos mesquinhos

A ajuda ao próximo sempre é feita com grandes atos...

Você diz que não fala de coisas intimas

Mas de coisas da alma

O que me faz pensar

Existe algo humanamente relativo mais íntimo que isso?

De qualquer forma é difícil o entendimento

Mas saiba que

Não falo do corpo,

Eu sempre estou sintonizado com a alma

Não apenas com a minha...

Você diz que um ato aparentemente insignificante

As vezes é de muita valia...

Mas pense

Se é aparentemente insignificante, não é insignificante...

Sim?

O que vale é o que as aparências tentam esconder

O que vale é ter olhos para ver

O que vale é ter mais de cem mil corações

Para sentir tudo

E ainda muito mais

Não se prenda a estrutura das palavras

Nem a gramática hermética

Por que indicar o erro

Que tu nun testo qualiquer

Se faltar algo por que não completar?

Se estiver errado

Podemos consertar...

É preciso está atento...

Se nos prendermos ao que não devemos

A vida passa

E não desenhamos nada

Na aquarela do mundo

Afim de que em fim ele vá

Ficando mais e mais colorido

Dia a dia mais e mais bonito

É preciso não olhar muito para

Si

Mesmo

Se não você pode não ver o outro

Você pode não ouvir o outro

Você pode não perceber

Que o outro tem um problema muito

Mas muito mais grave que o seu

É preciso não olhar muito para

Si

Vamos ver os que estão esquecidos

Pelos seres amados

Em manicômios

Hospícios

Hospitais

Na casa engraçada

Que não tinha nada,

Vivendo no esquecimento,

E de esquecimentos...

Seres que apenas um olhar atencioso

De semelhante ser também

Mudaria seu semblante...

Perdido olhar

Entre o que já se foi

E o que não se sabe o que será...

Tem muita gente precisando de ajuda

Tem muita gente

Que precisa de alguém

Nem precisa ser um rei

Para desvendar a esfinge da fome

De maneira que o medo

Assim estatelado no abismo

Abandone olhos de olhar tão sem luz

De olhar que não se apraz

Com outra coisa que não seja

A distância mais infinita

De todas as coisas infinitas...

Enquanto se tem tudo

Ao mesmo tempo

Esse tudo de nada serve

Para que você serve?

Vamos sair juntados os pedaços de gente

Que se espalharam depois da ultima explosão...

Vamos dar água a quem tem sede

Não apenas de água...

Vamos esquecer-nos de quem somos por um instante

Vamos pensar na dor alheia,

E vê-la, e senti-la

Como se ela estivesse em nosso coração

Mas ir além ainda disso

Vamos nos doar

Como elementos de esperança,

Deixemos de ser chorosos...

Vamos ser para o outro

O que muitas vezes não conseguimos ser

Para nós mesmos

Sei lá,

Uma cadeira

Uma escora

Uma bengala

Umas pernas

Um pouco de alimento oculto

Numa sacola deixada

Sem gritos nem alarde,

Esquecida estrategicamente

Em qualquer parada...

Sejamos o mais que o máximo

Que possamos ser para

Aqueles da massa social

Para aqueles que o peso social

Já traz sob julgo poderoso

Vamos parar de chorar.

O choro não serve de nada

Não ajuda em nada

Não existe cardápio de lagrimas

Essa sobremesa

A digira em si no silêncio

Da sala escura,

Do teu quarto negro...

São palavras o que pode ajudar

Mas mais que palavras

É se,

Como para guerra a espada é desembainhada,

Lançar-se também de forma determinada

Em busca de fazer sol para quem

Vive sempre à noite

Para quem nunca é dia

Nunca chega o dia

Para quem é sempre densa

E eterna

A imensa madrugada!

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 30/06/2008
Reeditado em 30/06/2008
Código do texto: T1058326
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