Até a alma, e além ainda, e mais e mais...

"Quem dera tudo fosse apenas sensação...

"Quem dera...

...

... É que o poeta, ao meu pífio ver, é um ser sensitivo

sente tudo

as dores e as alegrias

de si e dos outros,

das outras pessoas,

de pessoas próximas

de pessoas distantes,

de pessoas que ele nunca nem viu

e de pessoas que ele nunca vai ver...

de pessoas que estão vivas

e de pessoas que desviveu

ele sente

o mundo

o que vive

como o seu mundo próprio

como o da sua vizinhança

como o do seu bairro, de sua cidade

como do mundo inteiro

e sente outros mundos

além do sistema solar...

sente o mundo físico

e o que está alem do físico

o metafísico, mas ainda um pouco mais,

mais alem, além disso também...

O poeta sente esses mundos

e o que sente os seres desses mundos

o poeta

sente as pedras, as ouve

sente as flores

as sente

as cheira e falar com elas

e assim é com tudo quanto existe

no entanto

além disso

o poeta sente uma coisas que não

são apenas sentidas

por assim dizer

captadas

mas que estão em si

coisas que ele teme confrontar

são as coisas que o poeta não precisa decidi sentir

por que ele sente mesmo sem querer

um pouco mais alem

no intimo da alma do poeta

por que a alma do poeta

não é o poeta

entende?

Acho que isso não era para ninguém sentir

é como se através do espelho

o poeta não visse a si

mas o outro mundo

outros mundos

o que foi um dia

as dores que o dilacerou

e essas são dores não sensações

quem dera tudo fosse sensação

às vezes quebra-se a perna de verdade

quando a dor é real

não se pára para refletir

todavia

nem uma dor

por ser dor

não pode deixar de ser real

entende?

então tudo que o poeta sente

é ao mesmo tempo

presente

interno

e ausente

não se pode dizer claramente

só sinto a dor,

e é eternamente...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 28/06/2008
Reeditado em 29/06/2008
Código do texto: T1055939
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