Até a alma, e além ainda, e mais e mais...
"Quem dera tudo fosse apenas sensação...
"Quem dera...
...
... É que o poeta, ao meu pífio ver, é um ser sensitivo
sente tudo
as dores e as alegrias
de si e dos outros,
das outras pessoas,
de pessoas próximas
de pessoas distantes,
de pessoas que ele nunca nem viu
e de pessoas que ele nunca vai ver...
de pessoas que estão vivas
e de pessoas que desviveu
ele sente
o mundo
o que vive
como o seu mundo próprio
como o da sua vizinhança
como o do seu bairro, de sua cidade
como do mundo inteiro
e sente outros mundos
além do sistema solar...
sente o mundo físico
e o que está alem do físico
o metafísico, mas ainda um pouco mais,
mais alem, além disso também...
O poeta sente esses mundos
e o que sente os seres desses mundos
o poeta
sente as pedras, as ouve
sente as flores
as sente
as cheira e falar com elas
e assim é com tudo quanto existe
no entanto
além disso
o poeta sente uma coisas que não
são apenas sentidas
por assim dizer
captadas
mas que estão em si
coisas que ele teme confrontar
são as coisas que o poeta não precisa decidi sentir
por que ele sente mesmo sem querer
um pouco mais alem
no intimo da alma do poeta
por que a alma do poeta
não é o poeta
entende?
Acho que isso não era para ninguém sentir
é como se através do espelho
o poeta não visse a si
mas o outro mundo
outros mundos
o que foi um dia
as dores que o dilacerou
e essas são dores não sensações
quem dera tudo fosse sensação
às vezes quebra-se a perna de verdade
quando a dor é real
não se pára para refletir
todavia
nem uma dor
por ser dor
não pode deixar de ser real
entende?
então tudo que o poeta sente
é ao mesmo tempo
presente
interno
e ausente
não se pode dizer claramente
só sinto a dor,
e é eternamente...