Mãe

Mãe, pai, avós,

professores,

padres e pastores,

na mente confusos nóz.

Me ensinando a não viver,

minha responsabilidade

desconhecer.

Enquanto a possibilidade

foi escondida,

turturada, queimada viva.

Quando me libertei

nem sabia sonhar.

Para crescer e aprender

nem sabia pensar.

Interiores inquietudes

desenrolando de mansinho

me levaram a ponderar,

mistérios definindo,

razões descobrindo.

Vos olhava sem saber...

indecisa, revoltada.

A possibilidade

de evoluir me foi negada.

Chorei, quiz morrer.

Ressuscitei.

Tudo contradisse.

O que de vós aprendi,

não era assim!

Corri,

no lado proibido do mundo.

Tropecei,

em pedras de mentiras

e verdades,

em desconhecidas

realidades

me fui definindo

vos desdizendo,

me abrindo.

Cada vez mais forte,

reencarnando.

Cada vez mais desperta,

mais alerta,

mais profana.

Pecado não era a cama,

nem os livros proibidos,

nem pensamentos incontidos,

ou perguntas sem resposta.

Mas o dogma entranhado

no desejo vilipendiado,

da virgem descomposta,

da mentira da palavra

e do ouvido.

Mãe,

que do dogma foste escrava,

olha para mim,

ressuscitei

da cruz que só cava.

Reformei.

Catalizei.

Dormi,

tive prazer.

Li

mistérios proibidos,

satisfiz desejos coibidos

na luta do querer.

Aprendi,

evoluí.

Transmiti.

Ensinei.

O passado neguei.

Agora vivo uma verdade,

comigo tenho lealdade.

Perdoem,

os tempos mudaram.

Há que santificar

o que foi profanado,

escondido, negado.

Mãe, foste tão infeliz.

Pastores te mataram de culpa.

Te fazendo pedir perdão

e pagar em dinheiro

a absolvição.

Não quero copiar a tua morte.

Quero viver a tua herança,

a vida que me deste.

Vivê-la, como tu não fizeste.

Rosa DeSouza
Enviado por Rosa DeSouza em 10/06/2008
Reeditado em 31/10/2008
Código do texto: T1027974