Folhas ao vento

Você não precisa escrever-me a explicar-se

Toda explicação desse gênero é uma invenção

Você não precisa temer qualquer coisa

Muito menos magoar-me

Isso é impossível...

Não se ocupe em não interagir comigo,

Isso também é impossível...

Não encha sua cabeça

Indagando-se

Se está ou não alimentando falsas esperanças,

Essas aves mitológicas não existem...

Há muita coisa que você não precisa

Inclusive me dizer de sua Hesitação

Não se preocupe se nos vamos nos afastar

Nem se nos vamos nos aproximar

Você pensar demais!

Eu não sou um bibelô que quebra com a primeira queda

Aprendi há muito a viver com quase nada

Inclusive sem qualquer afeto desse gênero

Você não precisa ocupar-se comigo

Dessa forma perde toda a graça

Porque,

Vou te revelar algo,

Coisa que nunca fiz,

Na verdade,

Para mim,

É como se você não existisse,

Você que imagino,

Não é você que vive,

É um simples, mas pro

fun

do exercício de elucubração,

Não seja melindrosa...

te

men

li

Não a a raiva

E perdoe-me por eu pensar assim

di da

Mas escrevo in cio men

re na te,

Nenhum texto é certo

Nenhuma pessoa pode dizer ao certo

Que esse ou aquele texto surgiu

Aqui ou acolá

Textos va

za

dos destes dedos

Para si...

O texto é de quem o ler

Ou o ouvir

É de todo mundo

Tente entender...

Os textos são como folhas ao vento

Vai aonde sopra o espírito

E cai na mão de quem estender o braço

Para que ela pouse, repouse,

Um quê que passou por mim

Pelo âmago do meu coração,

Se inexistem mãos

Nem por isso inexiste o texto

Ainda mais o sentimento

Se inexiste texto

Não significa isso a não inexistência de tal...

As mãos estão rarificando-se

Mão aneladas de amor,

Mas isso não impede que as folhas continuem a cair

E não solidão

Do dia ou da noite

Do inverno ou do verão

Do outono ou da primavera

Se não há mãos

Nem assim elas deixam de seguir

Se não há ventos

Nem assim elas deixam de cair

Se não há destinos

Nem assim elas deixam de existir

Elas seguem para bem longe muitas vezes

Vão aonde a todos os lugares

Se expõem a todos os olhares,

E batem em todas as portas,

E conhece todas as pessoas

E atravessa todos os tempos,

E entende tudo que lhe segredam,

aptas a todos os corações...

Ou caem ali mesmo

A pé velho do tronco escuro da velha milenar árvore

A formar o humus que restabele ao solo

O que lhe é de direito e vital

Ou plainam um pouco,

Caem em qualquer lugar,

Em qualquer chão

Ou no mar

Ou dentro de um vulcão

Entram em qualquer país,

Ou desaparecem

Assim como se não houvessem existido

Como mágica,

No ar,

Na falta de ar,

Na dificuldade de respirar,

Como se uma ave de repente

Parasse de cantar

E guardasse seu silêncio perenimente,

Como se o inimigo estivesse por perto

A querendo predar...

Como uma bolha de sabão

Que se desgasta

E explode,

Assim são estas palavras,

Como se essa fosse sua destinação...

Acho que você não me compreende

Tampouco me entende

Nossos idiomas estão por demais afastados no tempo

Por demais temperados,

O meu,

De vida e na vida e na morte

No sonho e no medo

No passo e na queda

Nas cinzas e na explosão

No cerne do azul do fogo

Numa ave extraordinária que todos os dias

Brilha na escuridão que meus olhos vêem...

Então não prometa nada

Nada que não possa cumprir

Não se endivida por antecedência!

Não se altere

Fica calma

Veja o rio

Vejamos o rio

Sente-se Lídia ao meu lado...

E não façamos nada

Qualquer tentativa frustrada

De impedir seu poderoso fluir...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 07/06/2008
Reeditado em 08/06/2008
Código do texto: T1024316
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