Palavras
Esta confiança, desenho a enquadrar;
Estas linhas, víscera a desabafar;
Este riso, vontade a começar;
Este fogo, água a alimentar.
Saudade sem recordar,
as alturas que quero respirar.
Este livro, desejo de saber;
Esta música, melancolia a revêr;
Esta folha, primavera a nascer;
Esta rua, cratera a esconder.
Esperanças do querer
deste tão limitado ser.
Murmúrio interior a sorrir,
hímen psíquico a atrair,
fachada exterior resistindo.
Caminhando na vida sem cair,
te espero, me mentindo?
Do verbo ilimitado ao dispôr
arrumo e desfaço para repôr
palavras incapazes de ardôr,
sem côr, sem odôr, nem rancôr.
Nas brumas da lembrança do futuro
vislumbro uma silhueta.
Ouço a sonata de mágica trompeta;
coração saltando, com avidez seguro.
No lago da vida te urjo,
te esqueço, me esqueço, nos urbanizo,
enfeitando palavras o tempo uso.
Para te esquecer em ti pensando,
para te supôr te ultramistifico,
esquecendo o irreal vou sonhando!
Do livro A Beleza da Espera