Palavras

Esta confiança, desenho a enquadrar;

Estas linhas, víscera a desabafar;

Este riso, vontade a começar;

Este fogo, água a alimentar.

Saudade sem recordar,

as alturas que quero respirar.

Este livro, desejo de saber;

Esta música, melancolia a revêr;

Esta folha, primavera a nascer;

Esta rua, cratera a esconder.

Esperanças do querer

deste tão limitado ser.

Murmúrio interior a sorrir,

hímen psíquico a atrair,

fachada exterior resistindo.

Caminhando na vida sem cair,

te espero, me mentindo?

Do verbo ilimitado ao dispôr

arrumo e desfaço para repôr

palavras incapazes de ardôr,

sem côr, sem odôr, nem rancôr.

Nas brumas da lembrança do futuro

vislumbro uma silhueta.

Ouço a sonata de mágica trompeta;

coração saltando, com avidez seguro.

No lago da vida te urjo,

te esqueço, me esqueço, nos urbanizo,

enfeitando palavras o tempo uso.

Para te esquecer em ti pensando,

para te supôr te ultramistifico,

esquecendo o irreal vou sonhando!

Do livro A Beleza da Espera

Rosa DeSouza
Enviado por Rosa DeSouza em 28/05/2008
Código do texto: T1009091