Folha de papel em branco
Desfolho a rosa do viver
Como quem arranca as folhas de um diário, uma a uma;
Cada pétala conta um pouco de minha vida;
Cada pétala leva consigo:
Um grito engasgado na garganta,
Um soluço sufocado diante da janela aberta para a rua deserta,
Uma mágoa acalentada na solidão das noites insones,
Uma saudade amarelada pelo tempo,
As cinzas do que restou de um coração partido,
O gosto amargo dos desenganos,
A cor gris dos sonhos desfeitos numa tarde vazia e sem fim . . .
Leva-as . . . Oh vento!
Leva-as como se fossem as folhas-mortas do outono,
Leva-as para as distantes terras do esquecimento . . .
Passa . . . Oh vento!
Passa e apaga tudo . . .
Quero passar a limpo minha vida,
Quero sentir-me como se fosse uma folha de papel em branco . . .
Uma folha de papel em branco sobre uma mesa qualquer,
Qualquer mesa, pouco importa . . .
Oliveira