Acalanto

Este balanço incessante das ondas

Abranda-me o sofrimento,

Acalanta a lembrança da criança feliz

Que dormia embalada pelas canções de ninar

Nas noites longas e frias,

No velho casarão da quinta.

Quão distante aquela felicidade

Salpicada com as cores da ingenuidade,

E quão viva a sensação de aconchego

Que essa evocação me transmite.

Hoje, restam-me escombros de quem fui,

Desmoronamentos das horas absurdas,

Esquálidas sombras de crepúsculos

Esvaindo-se em cinzas de propósitos caducos,

Coaxar de rãs em charcos de desesperança,

Girassóis de olhos pasmos

Nos jardins de meu palácio

Saqueado pelo exército inimigo.

Oliveira