Carrossel
Gira carrossel de minha infância,
Gira no tempo que se perdeu,
Gira nas noites juninas,
Gira nas festas natalinas dos velhos parques de diversões,
Gira cheio de magia, indiferente à passagem do tempo,
Gira colorido, iluminado, velha fábrica de sonhos
Que se desfizeram ao som de marchas fúnebres.
Meu Deus, minha infância perdida! . . .
Os cavalinhos subiam e desciam
Enquanto o carrossel dava voltas,
Embalando a fantasia da criançada feliz e indiferente
À destruição de todos os nossos castelos de sonhos . . .
Evoco essas lembranças e vejo o parque de diversões,
O carrossel, os cavalinhos, as crianças -
Meu Deus, e eu sendo uma delas . . . -
Girando, girando num afastamento saudoso, longínquo
Para as terras do nunca-mais . . .
Minha alegria foi-se com minha infância perdida . . .
Quem fui extraviou-se no desenrolar do novelo da vida . . .
Quem sou desconhece-me.
Carrego comigo um baú cheio de ilusões caducas;
O sótão de minha alma reclama uma arrumação:
Fazer uma fogueira dos desenganos, dos dissabores,
Das decepções, dos amores malogrados,
E jogar as cinzas dos propósitos mortos
Na púrpura do ocaso, à beira-mar . . .
Oliveira