Um barco chamado Ana
Sobre o canto superior
traseiro do sovaco
há o desenho do ombro,
quando enviesada a mulher
ainda com o vestido
desabotoado às costas olha
para trás e pede que a
abotoem, logo e sem atraso,
antes que seja tarde,
enquanto sorri contente,
antes que as meninas
dos olhos corram
de volta e de novo
para frente, onde só
permaneça a parede
na qual há o quadro
pendurado, mas não há
o espelho. E como
é bom não haver o espelho!
Se ninguém neste instante
quer saber do espelho.
Se só é possível olhar
com os olhos os olhos
quando o olhar entra
no mar e o olhar
abriga a doçura do mar
capaz de abrigar marés
e suprimir agueiros;
como é belo o torso
e o pescoço sob o rosto,
quando as meninas
dos olhos quase dançam
para virem ao encontro
dos olhos escritores,
escritores desse conto,
que não carece que
aumentem um ponto
por causa da alegria
incontida do sorriso,
por causa do sovaco
sob a bela omoplata!
Asa de caravela do barco
de nome Ana palíndromo.