Dança
Sob o manto da noite, em febril torpor,
A insônia dança, e o corpo, ardente e em pranto,
Suspira o desejo por murmúrios de amor,
Tocando a ausência como um eco no canto.
Beijos se perdem no ar, em chama e calor,
Cada fôlego é suor, é fogo que avança,
Entrelaçando o instinto em cruel fraqueza,
E a carência, em surdina, ao peito lança.
A presença é memória viva e ausente,
Gravada na carne que, em febre, clama,
No seio da natureza, alma penitente.
Resta o vazio, a falta, o frio da cama,
Onde a lembrança, com sua voz silente,
Traz o doce veneno que o corpo inflama.