VERTIGEM

* Fiz esta poesia no final dos anos 70, publicada num livreto meu de Poemas de 1981. Coisa de época, mas retrato fiel de espírito.

VERTIGEM

Quero lançar-me em teu corpo

Para sentir a vertigem

De morrer glorificado

Com teu veneno de virgem. .

Quero-te assim pura e crua

Para amar de qualquer jeito

Beijar-te à esquina, na rua,

Sufocando-te em meu peito.

Quero-te em sonho ao relento,

Esvoaçante e altaneira,

Cabelos soltos ao vento

Qual da noite feiticeira.

Quero teu olho selvagem

Cravado no meu anseio,

Eu quero a tua coragem

Desnudando meu enleio.

Quero roubar-te um momento

Num arroubo de malícia

E transformar meu tormento

Numa explosão de carícia.

Serei sábio como amigo,

Mesmo brutal na paixão,

Eu serei meigo contigo,

Possuindo-te à exaustão.

Pagarei por tal loucura,

Serei o apoio mais terno,

Mas no teu corpo a aventura

Arderá como no inferno.

Sugando teu morno seio,

Haurindo a seiva da vida

Eu te amarei sem receio,

Ferozmente e sem medida.

E após a minha partida

Se a lembrança fustigar,

Eu não voltarei, querida,

Pois a sina é procurar

Outra casta e doce virgem

Para em seu corpo tentar

A doida morte em vertigem.