Exortação
.Peço-lhe um poema imenso,
finja que o mereço, sim;
Que seja profundo e denso;
há desamor que é assim!...
E se algum valor houver,
imagine que não mereça
Não o queira descrever
faça outra coisa qualquer
o que lhe der na cabeça:
Ao instinto de mulher
Junte outro que desconheça.
Diga e faça o que souber;
até ciúmes!... Enfim.
Os desgostos que entender;
mesmo lembrança ruim.
Dê-lhe as voltas que quiser,
se tiver ar de mulher
é o ideal para mim
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Dou-te este poema imenso
que comecei há um ano
está na planta do pé tenso
com uma orelha de abano
é tão belo como o vento
a perfumar o recinto
até parece um lamento
de Lisboa a Rio Tinto
fui buscar o fio dental
p’ra o ajudar a compor
num versinho sem igual
um sentimento com dor
mas dói-me agora prudente
o meu querido cotovelo
amanhã será diferente
talvez mulher seja ao lê-lo
então talvez nem acabe
e tu assines sem fim
aquilo que ninguém sabe
decerto o pior de mim
pois é, sou eu, esta mania fútil, rasa, pequena
de desenhar portas para fugir
do castelo da pena
M Conceição RoqueSilveira/Sfich