POEMA SEM EIRA NEM BEIRA
Se fosses uma canoa
colocava-te de proa
rumo ao infinito do gozo,
e quando em maresia desses um grito,
perceberias que eu era o vento
tangendo o mel da boca
na tua boca.
E por seres tu muito boazinha,
aliás, boa demais,
deixava eu acreditar de verdade,
que eras uma canoa...
Já o infinito do gozo,
caminho chão misterioso,
tem início fecundo
no raio do teu olhar.
Ai então de repente
o poema se perdia,
ou eu tanto te queria?
E como toda história
tem o seu final,
o vento te engolia
pra não dizer explícito
o que eu te fazia.
Porém, se tu fosses uma sereia,
faria este poema na areia,
para que o vento
pudesse te fecundar.
Assim acalentaria efusível
esse teu corpo de mistérios
feito senhor do teu império
curtindo o teu cantar...
Porque pra ser sereia no meu poema
ah realmente tem que ser muito boa
aliás, boa demais,
e como és bastante boazinha,
se de verdade fosses uma sereia
queria-te mesmo na arreia
e nem me importava se o luar
em qualquer beira do meu Pará
viesse nos cortejar.
No entanto,
se tu fosses o luar
nunca mais amanheceria.
Pois grávido do encanto
inventaria a infinita noite
num novo canto
só pra dizer as estrelas
como é maravilhoso
te imaginar.